Sobre ter encontrado minha infância debaixo do carro

Não, essa não é mais uma metáfora para “vi minha infância passando pelos meus olhos, de repente já era adulta e as responsabilidades e a maturidade e a vida e o drama e foi como se ela tivesse sido esmagada por um carro”. Eu literalmente vi minha infância passando debaixo de um carro.

O que acontece é que eu sempre fui uma criança muito sozinha. Não sozinha tipo aquela criança-esquisita-excluída pelos amiguinhos na escola (não que eu não fosse esquisita, mas de qualquer forma), mas pelo fato de que eu sempre gostei de brincar sozinha. E a minha brincadeira favorita, de longe, eram as Barbies. Eu gostava de inventar histórias para elas, com começo, meio e fim. O que acabava sempre me afastando das brincadeiras das outras crianças.

“Ai agora ele beija ela e eles casam” – NÃO. Tudo tem sem tempo, tudo tem seu dia certo para acontecer, segura ai amore.

Eu odiava que as coisas aconteciam fora de hora nas brincadeiras, por que para mim, elas já tinham script. E eu era boa, juro, as histórias podiam até virar novela da Globo – que aliás vivem me ligando, desesperados. Para de me ligar GLOBO, não sou obrigada. E foi dai que veio a ideia de fazer audiovisual. Dica da tia: nem tudo que você GOSTA de fazer, é o que você deve fazer como profissão; tem coisas que só servem como hobbies mesmo. Mas esse drama é para outra história.

Basicamente o que eu venho dizendo até agora é: eu era uma criança metódica. Mas até ai tudo bem, por que eu me virava sozinha e adorava minhas brincadeiras. E meus interesses iam além das Barbies. Eu adorava Polly, jogos de tabuleiro (esses eu não podia controlar, droga), falar sozinha – sim gente, falar sozinha é normal, parem de mentir para vocês mesmos – e também amava bichinhos de pelúcia. Mini metódica que era, meus bichinhos de pelúcia tinham RG com nome, sobrenome e tudo que tinha direito. Se você nesse ponto me acha louca, continua lendo por que as loucuras já terminaram, prometo!

O Guaraná tinha uma promoção onde você comprava sei lá quantos mil Guaranás e trocava por um bichinhos de pelúcia de animais da Amazônia. Eu sinceramente não lembro como funcionava a promoção, mas cara, quando eu quero uma coisa, eu quero tudo, quero TODOS. E sim, foi ai que comecei a minha pequena coleção dos bichinhos do Guaraná. Mico leão, periquito, tartaruga e capivara. Sim, capivara, a grande protagonista dessa história. Espero que vocês consigam idealizar um amor criança-brinquedo e consigam entender o amor que eu tinha por essa capivara. Eu andava com ela para todos os lados, colocava vestido das minhas bonecas bebês (nunca fui muito fã de bonecas bebês) e éramos felizes juntas. Para ela não tinha script, era o dia a dia comigo mesmo. Minha filha, uma baby capivara – OUN.

Mas o tempo passa, a gente cresce – jurei que não ia ser uma reflexão sobre a vida adulta – e certas coisas ficam “esquecidas” no tempo. Como a minha capivara bebê que aos poucos foi ficando quieta na minha cama, depois no armário e depois na parte mais alta do armário. Até hoje.

Geralmente pego muito transito para ir para casa e hoje como um dia qualquer estava parada esperando os carros da frente andarem. Até que minha mãe diz: “Nossa, por que a pessoa coloca um brinquedo debaixo do carro?”. E sem mais nem menos lá estava ela. “É A LAURINHA!!!!!!!!!”. Sim, minha capivara bebê. Não literalmente a minha, mas igualzinha, pendurada na parte de baixo do carro, sendo arrastada e pegando sujeira. Sinceramente moço do Gol vermelho, eu não te conheço, mas está aí algo a NÃO se fazer. Não pendure brinquedos para fora do seu carro, porque além de parecer meio cruel, me parece um tanto quanto perigoso (e idiota também, convenhamos).

O mais engraçado dessa história toda é que quando gritei “É a Laurinha!”, minha mãe simplesmente disse “Sim! Você gostava tanto dela!”. E eu fiquei feliz porque ela pode estar guardada no meu armário, sozinha – ou não, sempre acreditei fielmente em Toy Story – ela nunca foi de fato esquecida. É sempre bom lembrar das coisas que um dia nos fizeram bem. Então sim, eu literalmente encontrei minha infância debaixo do carro, e não essa não é uma metáfora da vida adulta – prometi que não faria e não fiz!

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